Variação do sistema sanguíneo é alvo de pesquisa no Amazonas
12/07/2012 – As incompatibilidades sanguíneas entre doadores e receptores, grávidas e fetos podem levar a complicações que comprometem a saúde e, em alguns casos, pode ocorrer a morte de pacientes e de recém-nascidos. Isso ocorre devido à falta de exames precisos que identifiquem as mutações existentes nos grupos sanguíneos. Essa carência levou o pesquisador e doutor em imuno-hematologia da Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Fundação Hemoam), Sérgio Roberto Lopes, a desenvolver um projeto de pesquisa que permite identificar as mutações existentes no sistema Rh da população amazonense.
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Ele explica que o sistema Rh apresenta diversas variantes, uma dessas variantes é a chamada RhD, que é o segundo grupo sanguíneo mais importante depois do sistema BO. “De todos os 32 sistemas de grupos sanguíneos existentes na hemácia o chamado sistema RhD, é o segundo sistema sanguíneo mais importante. Esse sistema é muito complexo e tem o gene muito amplo, por isso existe uma probabilidade muito grande de ocorrerem mutações, ou seja, polimorfismos, que normalmente não são identificados nos exames de rotina”, esclareceu.
A pesquisa denominada ‘Estudo do impacto nas rejeições imunes em terapia celular e incompatibilidade materno-fetal, das variantes genéticas do antígeno RhD na cidade de Manaus’, contou com incentivos do Governo do Estado, via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), por meio do Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde (PPSUS), que atua em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e teve por objetivo contribuir para o aumento da segurança transfusional e na detecção do Rh fetal através do sangue da mãe.
“Por ser um sistema mutante achamos relevante fazer esse tipo de estudo na nossa população. Com as pesquisas, já identificamos algumas mutações. Inclusive existem antígenos Rh, que é aquele que a população denomina de fator positivo e negativo. Às vezes, dependendo do polimorfismo ele pode não ser identificado no exame de rotina, isso significa que um doador ou uma gestante positivo pode ser identificado como negativo. Por ele estar pouco expresso na hemácia os testes, às vezes, não têm a sensibilidade necessária para detectar aquele antígeno, e isso pode acarretar em complicações após a transfusão e na gestação”.
Lopes afirma que com os exames mais específicos haverá um aumento na segurança transfusional, um auxílio no caso das gestantes que em algumas situações acreditam ter Rh negativo e na verdade são Rh positivo. “Nessa parte entra o nosso trabalho, para identificarmos essas modificações no gene Rh e isso é extensivo aos doadores, aos pacientes e as gestantes. Logo no início do teste encontramos um caso desse em uma gestante, quando começamos o trabalho nas primeiras 24 gestantes negativas, encontramos depois uma que era positiva detectada apenas por meio de teste de biologia molecular. Esses testes que estamos implantando na rotina vão aumentar a segurança transfusional”, destacou.
Testes
O pesquisador explicou que os testes podem evitar que um paciente receba um sangue com fator Rh incompatível com seu evitando reações após a transfusão. Nas gestantes os testes vão identificar as mutações no sistema Rh da mãe e do filho. “Isso vai evitar, por exemplo, o uso desnecessário da soroterapia, como as vacinas Matergan e Rogam, entre outras. Como o caso de uma pessoa ser positiva, mas ter mutações no seu Rh, dessa forma pode ocorrer ainda de um paciente sendo positivo receber sangue de um doador positivo, mas ter reações devido a essas pequenas alterações do sistema sanguíneo e ter talvez uma complicação” explicou.
Segundo o pesquisador, o trabalho é pioneiro no Brasil. “Esse trabalho já foi desenvolvido em algumas partes do mundo, como Estados Unidos, Canadá, Alemanha na Inglaterra, e no Brasil apenas as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro oferecem essa estrutura, mas não com a envergadura que estamos implantando aqui. Pois estamos incluindo os nossos doadores, para averiguar se há uma relação desses polimorfismos com alguma doença do sangue”.
Até o momento mil amostras já foram coletadas, mas será ainda maior até setembro quando o projeto for finalizado. “Temos mil amostras genotipadas, mas o nosso objetivo é passar de mil, embora o trabalho tenha um prazo definido com o financiamento da FAPEAM, que vai até setembro. Mas graças ao apoio da Fundação isso já está implantado aqui no Hemocentro do Amazonas e vamos dar continuidade, vamos buscar outros tipos de incentivo, pois é graças a esse apoio oferecido ao ensino e, principalmente, à pesquisa que estamos conseguindo fazer isso aqui no Amazonas”, frisou.
Sobre o PPSUS
Esse programa, desenvolvido em parceria com o Ministério da Saúde e CNPq, consiste em apoiar, com recursos financeiros, projetos de pesquisa que visem à promoção do desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação na área de saúde no Estado do Amazonas.
Rosilene Corrêa – Agência FAPEAM