Tecnologias assistivas facilitam a vida de deficientes físicos do Amazonas


02/10/2012 – Aproximadamente 790 mil pessoas no Amazonas são portadoras de algum tipo de necessidade especial e encontram dificuldades na sociedade, que não está preparada para conviver com essas diferenças. A acessibilidade é apontada por quem tem algum tipo de limitação como o principal obstáculo social. Segundo o servidor público estadual e universitário, Uriel Izel Benjamin, 22 anos, essa situação tem melhorado aos poucos.

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/“Em relação à acessibilidade nos locais públicos e privados, temos grandes dificuldades, pois ainda vemos poucos lugares verdadeiramente preparados para receber uma pessoa com deficiência, o que dificulta que nós tenhamos uma vida social mais ativa. Isso é triste, pois a deficiência não altera nossas vontades. Temos anseios como qualquer outra pessoa e queremos ter as mesmas oportunidades”, declarou Benjamin, que é cadeirante.

A inclusão das pessoas com deficiência é amparada por lei, mas na prática pouco é feito. “Existem leis que auxiliam na inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho e as que exigem que lugares públicos e privados estejam de acordo com as normas de acessibilidade, com o intuito de fazer com que as pessoas com deficiência participem mais efetivamente do convívio social”, afirmou.

Porém, segundo Benjamin, não é isso que acontece na prática. “Muitas vezes, as vagas de trabalho são até oferecidas, mas me parece que apenas com o intuito de cumprir a lei, pois os locais que as ofertam não têm preparo para receber pessoas com deficiência, o que acaba sendo contraditório”, frisou.

Benjamin disse que as dificuldades não devem se tornar justificativa para o isolamento. “Já passamos da época de diferenciar uma pessoa pela deficiência. Acho que o foco agora tem de ser a construção de meios para que as pessoas com deficiência exerçam sua cidadania e isso só poderá ser feito a partir da acessibilidade”, opinou.

De acordo com Benjamin, garantir o pleno acesso seja a locais públicos ou privados, ao mercado de trabalho ou a qualquer ambiente social que a pessoa com deficiência deseje estar, deve ser o primeiro passo de qualquer política pública voltada para esses cidadãos. “Acredito que muito mais do que a criação das leis, é preciso que elas sejam colocadas em prática. Não apenas por uma questão de obrigação, mas por uma questão de consciência social”, declarou.

Benjamin é um dos mais de 45 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência no País. Neste ano de 2012, o Governo do Amazonas, por meio da FAPEAM, em parceria com a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti-AM) e Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Seped), investiu cerca de R$ 2,5 milhões, no Programa de Apoio à Pesquisa para o Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva (Viver Melhor/Pró Assistir), relacionado ao Programa Estadual de Atenção à Pessoa com Deficiência. O objetivo do programa é apoiar financeiramente projetos de pesquisa que visem ao desenvolvimento de produtos ou protótipos de produto de tecnologia assistiva, para promoção da funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, objetivando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social.

No Amazonas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dos mais de 791 mil deficientes, 149 mil têm algum tipo de deficiência motora. Algumas iniciativas como a da pesquisadora e doutora da Coordenação de Engenharia e Mecatrônica da Escola Superior de Tecnologia (EST), da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Marlene Araújo de Faria, que desenvolveu um protótipo voltado para a modelagem de próteses de membros inferiores (pés e tornozelos) a partir de madeiras amazônicas, podem auxiliar na melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. 

No Brasil, a maioria dos pacientes amputados de pé e tornozelo utiliza prótese do tipo Solid Ankle Cushion Heel (Sach), ou pés articulados/dinâmicos. “Apenas 3% dos usuários podem se beneficiar com uma prótese de pé e tornozelo com absorção de energia”, afirmou.

Faria faz parte de um projeto pioneiro no Brasil e no mundo, que visa ao desenvolvimento de produtos voltados para atender pessoas amputadas nos membros inferiores, o que pode incentivar a inserção desse cidadãos em sociedade e melhorar a qualidade de vida deles. “É uma forma de minimizar os limites enfrentados por essas pessoas”, declarou.

Biopróteses

Denominado ‘Métodos de Desenvolvimento Biotecnológico para modelos, simulação, protótipo e testes de biopróteses’, o projeto foi financiado pela FAPEAM e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do Programa de Desenvolvimento Científico Regional (DCR) e faz parte do conceito de Tecnologia Assistiva que busca identificar todo o arsenal de recursos e serviços que contribuam para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e, consequentemente, promover vida independente e inclusão social.

“Existe um número muito grande de deficientes sem próteses no Brasil. Cerca de 80% deles dependem do Sistema Único de Saúde (SUS), mas apenas 20% têm condições de adquirir uma prótese. Esse cenário nos motivou a implantar na EST uma linha de pesquisa em engenharia de reabilitação. É uma forma de contribuirmos para diminuir essa desigualdade, principalmente na rede pública de saúde”, informou a pesquisadora.

O projeto de pesquisa foi desenvolvido no âmbito do curso de Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e rendeu à pesquisadora o título de doutora, sendo orientada pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Luiz Antônio de Oliveira, que falou da importância do projeto dentro do contexto social.

“As próteses vendidas no mercado não são, em geral, de fibra de carbono, são produtos caros e pouco acessíveis às classes de baixa renda. O uso de madeiras da região, assim como a modelagem e simulação usando métodos matemáticos, pode ser uma alternativa na diminuição dos custos atuais das próteses. Dessa forma, a pessoa pode adquirir um produto resistente a um preço mais acessível”, afirmou.

O produto obedece a padrões internacionais da Norma ISO 10328, na qual estão prescritas as regras para a realização dos testes de fadiga, no laboratório de marcha e de campo, todos obrigatórios. O material utilizado foi diversificado sendo utilizadas dez espécies de árvores.

“Entres elas, as que mais apresentaram resistência foram o Cumaru, o Pau d’arco e Roxinho. O critério, utilizado para selecioná-las, consistiu nas propriedades que lhes conferiam resistência e elasticidade, além de outros fatores mais técnicos”, explicou a pesquisadora.

Celulares para quem tem limitações

Pensando em atender ao grande número de pessoas com limitações visuais, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), instalado em Campinas-SP, desenvolveu um aplicativo que poderá ser utilizado em celulares como forma de auxiliar o uso de dispositivos móveis por pessoas cegas ou com deficiências visuais, o VozMóvel.

“O serviço utiliza a tecnologia de síntese de voz como base de um novo modelo de interação do usuário com o celular dotado de tela touchscreen (sensível ao toque)”, explicou o coordenador do projeto Claudinei Martins.

O projeto está em fase de teste e os primeiros resultados são positivos, segundo Martins. “Entregamos dez smartphones a deficientes atendidos pelo Centro de Prevenção à Cegueira (CPC), de Americana, interior de São Paulo, que estão participando do projeto. Essas pessoas ficarão com os aparelhos por três meses. Durante esse período elas irão avaliar a usabilidade dessa aplicação no dia a dia e terão a oportunidade de fazer sugestões de melhorias. Os primeiros testes foram positivos”, explicou. 

Martins informou que o VozMóvel foi desenvolvido com recursos do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel), do Ministério das Comunicações, administrado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Ele explicou que no modelo utilizado para o serviço, a tela do aparelho celular é dividida em seis quadrantes (áreas), correspondentes às principais funções do aparelho.

“São os serviços mais utilizados como a realização de chamadas, histórico de ligações, contatos, mensagens de texto, nível de sinal, nível de bateria e data/hora. Na medida em que a pessoa toca ou desliza o dedo sobre a tela touchscreen do aparelho, uma voz sintetizada informa a função correspondente àquela área”, detalhou. Além disso, com outro toque, o usuário tem acesso à função. Se ela envolver uma informação, como o nível de bateria do aparelho ou uma mensagem de texto recebida, ela também será transmitida por meio de voz.

Essa primeira versão do VozMóvel foi desenvolvida para o sistema operacional Android, que de acordo com Martins, atualmente, lidera as vendas de smartphones no mercado mundial. “O público-alvo do VozMóvel são as mais de 6,5 milhões de pessoas cegas ou com grande dificuldade permanente de visão residentes no Brasil, mas no futuro, essa tecnologia poderá beneficiar também idosos ou pessoas com baixo nível de letramento”, acrescentou.

Rosilene Correa – Agência FAPEAM

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