SBPC conhece pesquisas feitas por indígenas do AM
Campinas (SP). Dzamakoli, em baniwa significa pássaro dourado. Foi assim, revelando seu nome de batismo na etnia a que pertence, que Danilo da Silva Lopes encerrou sua apresentação na 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dzamakoli é como Danilo é chamado na Comunidade do Miriti, no município de São Gabriel da Cachoeira, localizado na região noroeste do estado.
Ele e mais três alunos indígenas vieram à SBPC com a finalidade de apresentar trabalhos de pesquisa desenvolvidos no município com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica Júnior (Pibic Jr.). Além deles, outros quatro estudantes, todos pertencentes à Escola Agrotécnica Federal de São Gabriel da Cachoeira (EAF-SGC), estão em Campinas para expor estudos científicos na SBPC Jovem.
Para o estudante Diego Cordeiro Lima, tudo é novidade. Nascido na comunidade Jutica, quase fronteira com a Colômbia, distante três dias de voadeira (pequeno barco de transporte) de São Gabriel da Cachoeira, Lima nunca tinha viajado de avião. Foi a primeira vez também que o aluno saiu do município e ele afirmou estar aproveitando as atividades em Campinas ao máximo.
“Sair do município é muito importante, conhecer pesquisas, abrir novos horizontes de conhecimento”, afirmou o professor Rinaldo Sena Fernandes, professor da EAF que está acompanhando os alunos na SBPC. Ele garante que a Escola Agrotécnica irá priorizar as próximas reuniões da Sociedade como forma de divulgar as produções científicas da instituição.
De acordo com ele, três fatores chamam bastante atenção nas apresentações da Escola: o fato de ser do Amazonas, de alguns alunos serem indígenas e do estado financiar bolsas de Pibic Jr., o que é uma novidade para várias pessoas de outras regiões do país, segundo o professor.
Jaciara Lima de Oliveira, da etnia baré, apresentou o trabalho “Padrões fenológicos de uma comunidade arbórea no Parque Nacional Pico da Neblina”, em que ela estudou 627 árvores para monitorar a floração, frutificação e folhação. Jaciara explicou que o conhecimento da fenologia de uma espécie é importante para entender suas relações com o meio ambiente e como elas reagem às mudanças climáticas.
“A SBPC reúne os melhores projetos do país, sinto-me honrado em ter o trabalho selecionado para participar do evento. Aqui, vi coisas muito interessantes que talvez nunca tivesse acesso em São Gabriel da Cachoeira”, diz o estudante Michael Collins Silva que apresentou estudo sobre serrapilheira em florestas de platô.
Co-orientadora de todos os trabalhos da EAF apresentados na 60ª Reunião, a professora Maria Rosimar Pereira explica que alguns dos projetos estão ligados ao Programa de Grande Escala da Biosfera – Atmosfera na Amazônia (LBA/INPA). O LBA mantém torres de observação em São Gabriel da Cachoeira, onde Rosimar é representante do Programa.