Relações entre mudanças climáticas e Amazônia são discutidas em simpósio do Flifloresta


A discussão foi apresentada por Niro Higuchi, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), durante o segundo dia do Simpósio de Cultura e Natureza na Amazônia do Flifloresta

Em 2008, depois de 100 anos, nevou em Bagdá. No início do mesmo ano, o Nordeste brasileiro foi alagado, e o Sul sofreu forte estiagem. No ano passado, uma forte onda de calor atingiu os países do Leste e do Sul da Europa, elevando a temperatura na Hungria, Romênia, região dos Bálcãs, Grécia e Itália.

Ninguém duvida: o planeta está aquecendo. Resta saber se este é um processo natural, como defendem os cientistas “céticos”, como são chamados os pesquisadores que atribuem o aquecimento global a fatores externos, como os raios cósmicos galácticos que interagem com o globo terrestre, ou uma reação da natureza ao impacto das ações humanas e da vida na Terra, como associam os cientistas que pesquisam as mudanças climáticas e os gases de efeito estufa.

Em meio à polêmica, as atenções se voltam para a Amazônia: o desmatamento contribui para as mudanças climáticas? A preservação da floresta pode colaborar com a diminuição do efeito estufa? Quais os efeitos da Amazônia sobre as mudanças climáticas e vice-versa?

Essas foram algumas das questões apresentadas nesta terça-feira (18) pelo pesquisador e engenheiro florestal Niro Higuchi, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), durante o segundo dia do Simpósio de Cultura e Natureza na Amazônia do Festival Literário Internacional da Floresta (Flifloresta), no auditório da Universidade do Estado do Amazonas, em Manaus.

Quem esperava respostas conclusivas e de fácil assimilação saiu frustrado. “Pouco se sabe sobre as respostas da Amazônia às mudanças locais. Menos se sabe ainda sobre as respostas da Amazônia às mudanças globais”, afirmou o cientista, diante da platéia de escritores, professores, estudantes e intelectuais que participam do simpósio.

Expoente do grupo de cientistas que buscam entender as questões climáticas a partir da emissão dos gases de efeito estufa, Higuchi pesquisa as relações entre as mudanças climáticas e a Amazônia há 29 anos. Em suas pesquisas, descobriu uma árvore nascida em Manaus no ano 400, mesmo ano em que curiosamente se tem o registro da primeira ocorrência do fenômeno El Niño e que também permite estimar a idade da Floresta Amazônica em cerca de 1.500 anos. Descobriu também que as árvores da floresta se compõem, em grande medida, de água. Em um exemplar de 100kg, 41,6% são de água pura. Então, na Amazônia, “também temos água em pé”, conclui.

As pesquisas de Higuchi também corroboram resultados nem sempre fáceis de entender. Ao mesmo tempo em que a floresta funciona como filtro dos gases poluentes, com uma capacidade de seqüestro de carbono acima do nível do solo de 400 mil toneladas, jorra na atmosfera 155 toneladas de carbono por hectare, considerando somente o gás emitido pela floresta do Estado do Amazonas. “No entanto, quando a floresta é derrubada, as mesmas 155 toneladas de carbono por hectare são colocadas à disposição da atmosfera”, contrapôs o cientista.

Neste ponto, é necessário esclarecer que 84% dos gases emitidos sobre a atmosfera são derivados do carbono, dos quais 64% são formados por dióxido de carbono e 19% de metano. Os gases decorrentes dos processos naturais do planeta representam 89% do total de gases emitidos. Os demais 11% são decorrentes dos processos industriais.

Higuchi fez menção a resultados pouco animadores apresentados por outros cientistas: a Amazônia vai esquentar e ficar mais seca; o nível do mar pode subir até 50 cm na costa brasileira, o que deve afetar cerca de 42 milhões de pessoas; o oceano pode avançar até 100 metros em praias do Norte e do Nordeste; a temperatura média do país pode subir em até 3,8 ºC. Até 2010, há possibilidade de queda nas chuvas e aumento de até 8 ºC na temperatura média da Amazônia.

Em suas considerações finais, Higuchi reiterou que a mudança climática global é real e que comunidade científica sabe muito pouco sobre os efeitos das mudanças climáticas sobre a Amazônia e vice-versa. Com uma ressalva: “Na dúvida, é melhor manter a floresta em pé”.

O Simpósio de Cultura e Natureza na Amazônia termina nesta quarta-feira (19) de manhã, no município de Presidente Figueiredo (AM), com leitura da Carta da Floresta na Cachoeira da Onça. A carta esta sendo redigida pelos palestrantes e demais convidados do evento. Os interessados em participar desta programação deverão pagar taxa de R$ 25, com direito a café da manhã e transporte em ônibus fretado pelos organizadores até o município. No mesmo dia, à tarde, tem início a programação literária do Flifloresta no Parque dos Bilhares.

Outras informações sobre o Flifloresta no site: http://www.flifloresta.com.br

Mirna Feitoza – Agência Fapeam

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