Projeto viabiliza produto ecológico para substituir seixo e brita em construções
O setor de construção civil no Amazonas vive hoje um momento de apreensão com a possibilidade de proibição, por parte dos órgãos ambientais, da extração do seixo do leito dos rios. A decisão causaria um grande problema para as obras em andamento atualmente no estado.
De acordo com pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o solo da região amazônica é pobre em rochas utilizadas na construção civil, situação diferente do que acontece em outras regiões do país. Para piorar a situação, a cada ano, a extração de seixo do leito dos rios, atividade que causa impacto ambiental, só ocorre em localidades afastadas da capital do estado, fato que encarece o preço final do produto que chega a Manaus, capital do Estado.
Pensando numa solução para esse problema num futuro próximo, a empresa Litiara Cerâmica Xingu, que produz tijolos no município de Itacoatiara (AM), resolveu inovar e colocar um novo produto no mercado por meio do projeto “Produção de agregado sitético de argila calcinada para utilização em concreto cimento Portland”, com incentivos do Programa de Apoio à Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação em Micro e Pequenas Empresa (Pappe Subvenção Finep AM) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (Sect), da Secretaria de Estado e Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Amazonas (Seplan), da Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/AM).
Estudada há oito anos por pesquisadores da Ufam, a argila calcinada (pequenas pedras feitas a partir do barro encontrado em abundancia na região), que apresenta uma resistência igual ao seixo e custo de produção mais baixo, tem tudo para se tornar uma alternativa viável para as construtoras.
Segundo um dos proprietários da empresa Litiara, Murilo Yuji Kavati, a expectativa é causar uma revolução no setor de construção civil, tanto no aspecto ambiental quanto pelo lado econômico. “Estamos desenvolvendo um projeto que, no futuro, poderá ser implantado de forma rápida e simples em várias outras indústrias de cerâmica. Elas poderão começar a produzir o agregado de argila calcinada como mais uma alternativa econômica quando houver alguma dificuldade no mercado de tijolos ou telhas, mudando totalmente o seu produto final usando a mesma matéria prima. A idéia é que todo o setor cerâmico seja beneficiado com essa nova tecnologia”, explica o empresário.
Para o economista e um dos consultores do Programa Pappe Subvenção que esteve na visita técnica à empresa, na última terça-feira (03), Wilmar Fonte Belleza, representando a Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam), o desenvolvimento do projeto é extremamente importante por diferentes razões, entre elas o fato da argila calcinada ser um produto ecológicamente correto, uma vez que o impacto ambiental causado ao meio ambiente é mínimo e controlável se comparado à extração do seixo como é feito hoje por dragas.
“Acredito que será uma questão cultural facilmente transponível mudar o costume da utilização do seixo e da brita para o agregado de a argila calcinada. Certamente a empresa Litiara, que é uma das maiores interessadas no sucesso do produto, fará uma boa divulgação e um trabalho de marketing no mercado para que isso aconteça”, afirma Wilmar.
Para o consultor, este é um produto que já surge, do ponto de vista empreendedor, com boas perspectivas, pois já existe uma pesquisa científica por trás de todo o processo produtivo que pode beneficiar outras empresas da região que se interessem em investir, produzir e comercializar este novo produto, gerando renda e empregos na indústria cerâmica do Amazonas.
Pesquisas
Apesar do agregado de argila calcinada já ser utilizado em outros estados e países, no Amazonas ainda precisa passar por mais testes químicos e tecnológicos, para apresentar um produto final com maior qualidade e segurança. Novos estudos já foram iniciados por meio de análises da argila, definição da mistura e extrusão para a formação das pedras de acordo com tamanho desejado e a demanda do mercado.
Para garantir essa qualidade, a empresa Litiara, que será a primeira no Amazonas a produzir a argila calcinada em escala industrial testada e aprovada nos Laboratórios da Faculdade de Tecnologia da Ufam, também contará com os testes realizados no Senai Mario Amato, localizado na cidade de Itu (SP), especializado em análise de cerâmicas e referência nacional na área.
Estimativas da empresa após a realização dos testes finais e com o início da produção em escala industrial indicam que a Litiara terá condições de produzir cerca de 150 toneladas, por dia, do agregado de argila calcinada, sem interromper a produção de tijolos. A quantidade seria suficiente para atender a demanda do mercado local.
O desenvolvimento de todo o processo produtivo assim como a avaliação da qualidade do produto final também fazem parte de dissertação de mestrado do aluno da Ufam, Ênio Neves de Souza, que deverá estar com o trabalho concluído até o mês de julho de 2010.
Segundo o professor do curso de Engenharia civil da Ufam, Nilton Campelo, a argila calcinada já vem sendo pesquisada a mais de oito anos nos laboratórios da instituição de forma acadêmica, mas agora é o momento de transformar estas idéias em produtos.
“Esse é o encontro perfeito do saber acadêmico com a produção. Um não vive sem o outro. Não adianta termos o saber e estas idéias ficarem arquivadas em gavetas. Essa conciliação do academicismo com a produção vem num momento oportuno, pois todos saem ganhando, a universidade, o empresário e a sociedade. Essa é uma iniciativa que precisa ser contínua, incentivada tanto nas universidades quanto nas instituições financiadoras de projetos, mas principalmente, nas empresas” destaca Nilton.
De acordo com o pesquisador, a estimativa é que em até oito meses o projeto já apresente resultados práticos. “Se em nível laboratorial nós conseguimos resultados satisfatórios, imagine o produto final saindo de um processo produtivo em escala industrial com padrões de qualidade mais elevados”, ressalta.
Visita técnica
A visita dos consultores do projeto Pappe Subvenção à Empresa Litiara foi considerada proveitosa. “Vimos nesse contato a possibilidade de expor os detalhes sobre a nossa proposta, que tem um valor de investimento total em torno de R$ 300 mil (sendo cerca de 192 mil da Fapeam e R$ 109 mil como contrapartida da empresa), além de tudo o que será feito. Dessa forma pretendemos conseguir um maior apoio das instituições envolvidas, representadas nessa primeira visita (Fapeam, Seplan e Afeam)”, conclui Murilo Yuji Kavati, um dos sócios da Litiara.
O consultor Wilmar Belleza, ressaltou a precisão da empresa quanto à execução do projeto. “Mesmo ainda não tendo gasto o valor programado no projeto, verificamos que várias atividades estão em andamento, como a coleta de material (os três tipos de argilas disponíveis na jazida da empresa) e a oficialização do convenio com a Ufam, que dará todo o suporte à qualidade e o desenvolvimento do produto”, disse o representante da Afeam.
Além disso, os aspectos relacionados à segurança também foram ressaltados. “A empresa é cautelosa, tentando se resguardar de todos os aspectos que possam prejudicar o andamento do projeto. Mesmo assim, é notório que o projeto está em andamento e se todos os prazos forem cumpridos, teremos o agregado da argila calcinada sendo produzida em escala industrial e comercializada já em 2010”, avalia Wilmar.
Pappe Subvenção
O Programa de Apoio à Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação em Micro e Pequenas Empresa (Pappe Subvenção Finep AM) consiste em apoiar, com recursos financeiros, micro e pequenas empresas interessadas no desenvolvimento de produtos e processos inovadores, com financiamento de instituições como a Fundação de Amparo à pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), a Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia (Sect), a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Amazonas (Seplan), a Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam) e o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae/AM).
Ulysses Varela – Agência Fapeam