Programa amplia conhecimento sobre vida e situação do gavião-real
11/01/2013 – A maior ave de rapina brasileira passou a ser mais conhecida e mais protegida nos últimos 15 anos graças a uma iniciativa coordenada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). O Programa de Conservação do Gavião-Real (PCGR) combina colaboração com comunidades e monitoramento por satélite para acompanhar a vida de exemplares do animal na Amazônia, na Mata Atlântica, no Cerrado e no Pantanal. A iniciativa inclui, ainda, a reintegração de exemplares resgatados à natureza.
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O programa está presente em 30 municípios e monitora hoje cerca de 60 ninhos do gavião-real (Harpia harpyja) – também conhecido como harpia e uiraçu – em nove Estados: Acre, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Tocantins. Desde sua criação, em 1997, o PCGR visita áreas de ribeirinhos, agricultores e extrativistas para realizar atividades de educação ambiental e estabelecer laços para receber informações sobre casais estabelecidos da espécie. O documentário fotográfico Harpia, de João Marcos Rosa, é usado para divulgação em escolas rurais e unidades de conservação.
O gavião-real tem morada fixa quando adulto e em casal, e mantém cuidado parental durante um período longo: o filhote fica de um ano e meio a dois anos com os pais. Uma das descobertas foi sobre a permanência dos filhotes no entorno do ninho. “Constatamos que durante o primeiro ano eles têm uma área de uso com uns 700 metros de raio, desenvolvendo ali suas habilidades de voo e caça. Daí a importância de preservar a vegetação do local”, disse a coordenadora do programa, Tânia Sanaiotti. Os estudos vêm reforçando os registros anteriores de que a ave é monogâmica. Apesar do nome popular, os cientistas consideram-na uma águia – a maior das Américas e a mais possante do mundo.
A análise de DNA mostrou um cenário preocupante quanto à situação genética da espécie. O pesquisador Aureo Banhos dos Santos, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), comparou amostras extraídas de penas recolhidas na natureza às de exemplares de coleções de museus, conservados há até 70 anos, e verificou a redução na variabilidade dos genes. Esse problema aumenta o risco de extinção, pela probabilidade de cruzamentos consanguíneos e de fragilidade diante de uma doença, por exemplo, pois todos os indivíduos daquela população tendem a ser afetados da mesma forma. Em decorrência disso, está em avaliação a mudança do status do gavião-real na lista brasileira dos animais ameaçados. Ele pode passar a constar como vulnerável.
Perfis
Outra descoberta diz respeito à convivência com a segunda maior águia brasileira, o uiraçu-falso ou gavião-real-falso (Morphnus guianensis), também estudado pela equipe. “A harpia faz ninho em árvores emergentes – aquelas que ultrapassam o dossel da mata –, por volta de 30 metros de altura, enquanto o Morphnus costuma nidificar uns dez metros abaixo”, explicou a bióloga. Também na alimentação não há competição direta: “Enquanto a harpia se alimenta costumeiramente de macacos e preguiças, o uiraçu-falso preda pequenos macacos, gambás e roedores, além de cobras. Ou, então, filhotes daqueles animais maiores que a outra espécie caça”.
A soltura de espécimes jovens tem ajudado a entender a dinâmica territorial do gavião-real. São bichos que sobreviveram à queda do ninho numa situação de tempestade ou desmatamento, ou mesmo a um tiro, e depois de tratamento e readaptação, dependendo da saúde e do tempo do contato com pessoas, podem ser liberados numa unidade de conservação, preferencialmente na região do resgate. “A dificuldade é que, muitas vezes, eles vão além da área protegida, e assim se expõem ao risco de serem caçados pelos moradores, seja por medo ou para alimentação”, explicou Tânia. Ela observa que essa prática tem diminuído em alguns dos lugares onde o programa está.
Uma anilha presa à perna da ave permite sua identificação e um transmissor instalado no dorso propicia o acompanhamento à distância, por satélite. “Às vezes vemos que, de um dia para outro, aquele exemplar se deslocou três ou quatro quilômetros. Alguns chegaram a percorrer 30 quilômetros no período em que recebemos sinais de sua localização”, conta Tânia. Essas informações vão compor a tese da doutoranda Francisca Helena Aguiar da Silva, do Inpa.
Medidas
Contra o empobrecimento genético, é possível promover cruzamentos entre exemplares mantidos em zoológicos e criadouros. Mas em muitas regiões, alerta Tânia Sanaiotti, o tamanho dos fragmentos de floresta complica a reintrodução no ambiente natural. O predador em questão precisa de áreas amplas e relativamente intactas, com árvores altas e boa quantidade de primatas para se alimentar.
“Nos próximos três anos, pretendemos saber mais sobre os deslocamentos do gavião-real, principalmente dos subadultos, que são os que mais vagam”, disse a coordenadora. “Isso permitirá medidas mais eficazes para protegê-los”.
O Programa de Conservação do Gavião-Real tem como principais parceiros o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/MMA) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama/MMA). Também conta com a parceria da Fundação Boticário e das empresas Vale e Veracel, além do apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI), entre outras instituições.
Fonte: Ascom do MCTI