Plantas e animais são usados como remédios por comunidades no AM
O papel da pesquisadora não é comprovar a eficiência dessas substâncias, mas observar e registrar as espécies, identificá-las pelo nome científico e relacionar a prática com a medicina tradicional.
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“Se isso vai servir para nós, é outra história. Se não funcionasse para eles, não usariam até hoje”, diz Eliana, que começou o trabalho em 1995, no Rio Jaú, e voltou à região este ano para analisar os hábitos de sete comunidades do Rio Unini, no norte do Amazonas.
Para ter uma ideia do isolamento dessas pessoas – 150 divididas em 20 famílias –, as cidades mais próximas ficam a 250 quilômetros de barco pelo Rio Negro. Os indivíduos são chamados de “caboclos”, são uma mistura de negros, índios e nordestinos que migraram para lá.
Até agora, já foram catalogadas 122 espécies de plantas e 57 animais, com 67 diferentes usos terapêuticos. Entre as partes da flora usada, estão: caules, folhas, cascas, sementes, flores, frutos e “exudados”, uma espécie de “suor” que pode ser tanto seiva quanto resina, látex ou goma.
Dos animais, são utilizados ossos, penas, carne, cérebro e pênis. Além disso, os caboclos aproveitam substâncias e secreções produzidas pela fauna, como urina e bile.
Atualmente, Eliana tem se centrado no estudo dos exudados. Das cascas, sementes ou frutos de árvores como andiroba, copaíba e babaçu, por exemplo, os moradores fazem óleos essenciais, com propriedades que vão do perfume ao tratamento de doenças.
“Cada uma dessas substâncias ainda precisa passar por uma análise química e botânica para saber sua composição e ser classificada”, explica a pesquisadora, que coordena o Centro de Estudos Etnobotânicos e Etnofarmacológicos da Unifesp.
Da dor de dente ao anticoncepcional
Os ribeirinhos também aproveitam a natureza para fabricar remédios e fazer “defumações” contra dor de dente e de cabeça, inflamações e síndromes culturais como mau-olhado ou quebranto e “doenças do ar” . Já as enfermidades “convencionais” , como sarampo, hepatite e tétano, diminuíram na região após um aumento na vacinação.
Imagem mostra comunidade do rio Unini. À direita, habitat do sapo canuaru (Foto: Eliana Rodrigues/Unifesp)
“A ‘baba’ do sapo canuaru, por exemplo, é empregada contra dor de cabeça. Mas ainda não sabemos se essa substância é liberada pelo animal, pela árvore onde ele vive, a 40 metros de altura, ou se é um produto da relação entre eles”, explica. Segundo Eliana, o anfíbio provavelmente faz um berço na copa para os girinos.
Outra aplicação interessante das plantas pelas mulheres é na forma de anticoncepcional. “Existe uma com efeito temporário, outra que neutraliza a ação dessa primeira e uma terceira permanente. As mulheres tomam um chá todo dia durante a menstruação”, conta. Há também moradoras que, antes de engravidar, amarram uma casca de árvore no baixo ventre para determinar o sexo que desejam para o bebê.
Macacos e cães
Além das comunidades amazonenses, Eliana já estudou rituais de cura de tribos Krahô, no Tocantins, e comunidades quilombolas. Agora, está migrando suas pesquisas para macacos, como bugios e muriquis, e cães domésticos. Essas áreas são chamadas de etnoveterinária e zoofarmacognosia.
“A legislação para trabalhar com humanos é complicada. Vamos analisar como os macacos e cachorros usam plantas medicinais voluntariamente. Os cães, por exemplo, comem grama quando não se sentem bem”, diz.
Fonte: Do G1 em São Paulo, por Luna D’Alama