Pesquisa estuda sobrevivência dos indígenas no espaço urbano de Manaus


27/07/2012- São Luís (MA) – Os indígenas que saíram do seu território tradicional para o espaço urbano perderam a identidade? Eles conseguiram manter a sua cultura? A divergência de opiniões sobre essas questões é grande. A pesquisa ‘Da migração à sobrevivência: os indígenas sateré-mawé no espaço urbano de Manaus’ teve por objeto de estudo a comunidade indígena residente no Bairro da Paz, zona centro-oeste de Manaus.

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O objetivo foi discutir as práticas corporais e manifestações culturais vivenciadas pelos indígenas no processo de transição de vida do seu habitat para o espaço cotidiano. A pesquisa, apresentada durante a sessão de pôsteres da 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que  acontece em São Luís (MA) até esta sexta-feira, foi desenvolvida pelo pedagogo Marcos Afonso Dutra, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com a orientação da doutora em práticas culturais dos povos tradicionais, Artemis de Araújo Soares.

No decorrer da pesquisa, o mestrando buscou compreender as múltiplas representações que estão inseridas nessas práticas e nas referidas manifestações.  “Migrar é uma coisa. Sobreviver no espaço citadino com a conservação da cultura dos povos tradicionais é outra coisa”, esclareceu.

De acordo com o mestrando, o estudo desmistificou o discurso dominante de que o índio citadino, ao migrar para a cidade, perdeu a sua identidade. “Ele não perdeu a identidade, mas sim incorporou a identidade do não índio para sobreviver nesse espaço. Um exemplo que puderam presenciar durante a pesquisa foi quando uma graduanda de pedagogia indígena da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) estava junto com as crianças indígenas ao microfone cantando um hino evangélico em sateré-mawé. Isso reforça a nossa hipótese”, afirmou.

Adaptabilidade e sobrevivência

Para sobreviver no espaço urbano, os indígenas produzem peças artesanais e as comercializam. “A venda das peças não consiste tão somente numa estratégia econômica necessária para a subsistência na cidade, mas se apresenta como elemento de manutenção de uma cultura material diferenciada que surge como um fator de resistência e organização política. Os trançados, as tramas e as sementes trabalhadas se apresentam como elementos diacríticos de identidade que os diferencia dos demais”, explicou Dutra.

A pesquisa revela que a cultura tradicional é acionada na cidade para a afirmação da identidade étnica. Nesse caso, por exemplo, o ritual da tucandeira é resgatado como parte do patrimônio imaterial da etnia e, dentre os múltiplos sentidos que adquire, demarca as relações sociais e de gênero entre os índios Sateré-Mawé, destaca o mestrando.

“Além de realizarem os rituais no espaço da comunidade, chamado de ‘malocão’, os indígenas também são convidados por escolas localizadas nas proximidades para mostrarem sua cultura”, complementou.

Perfil

A população indígena que se encontra na cidade de Manaus, em sua maioria, é proveniente do Alto Rio Negro e do Alto Solimões. De acordo com registros do Distrito de Saúde Oeste da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus (Semsa), 25 famílias Sateré-Mawé residem no Bairro da Paz, totalizando cerca de 110 pessoas, divididas em duas comunidades (Wykyhú e Y’apyrehyt). Na zona oeste, também existem comunidades indígenas nos bairros Compensa e no Tarumã, das etnias Mura e Kambeba.

Na zona norte, há os Tikuna e os Deni, residindo no bairro Cidade de Deus. Na zona leste estão os Cokama e outros representantes da etnia Sateré-Mawé, localizados no Ramal do Brasileirinho. Os Dessana podem ser encontrados no Igarapé da Castanheira, zona sul.

Segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2001, 7.896 índios de diferentes grupos étnicos vivem em Manaus – 646 na área rural de Cuieiras. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no entanto, estima que a população indígena em Manaus ultrapasse os 10 mil.
 

Fonte: Anália Barbosa, Ciência em Pauta/Secti-AM

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