Migração aldeia-cidade é tema de pesquisa sobre indígenas do Baixo Amazonas
A relação das populações indígenas com o Estado e o deslocamento dos povos étnicos para as áreas urbanas na Amazônia serviram de base para a pesquisa do projeto “Migração aldeia-cidade entre índios Sateré-Mawé e Hixkaryana, na Amazônia Brasileira”, coordenada pelo professor doutor Renan Albuquerque Rodrigues, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
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O projeto durou um ano e foi fomentado por meio do edital 013/2013 da Ufam, via Programa Santander Universidades. A atividade possibilitou a ampliação de conhecimentos acerca do sofrimento mental de populações étnicas do Baixo Amazonas, localizado à leste da capital Manaus.
O estudo trata o debate sobre a interação psicossocial das etnias Sateré-Mawé e Hixkaryana, além das parcelas de problemas históricos das populações indígenas e de seu patrimônio na tomada do território brasileiro. A pesquisa também aborda o cenário onde vive o índio urbano, que devido à migração aldeia-cidade passa a vivenciar problemas como desemprego, desterritorialização, desfiliação parental, isolamento, abuso de álcool e drogas.
Segundo dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena e do Distrito Especial de Saúde Indígena (Sesai/Dsei), do Ministério da Saúde, a maior quantidade de casos de transtornos mentais é da etnia Sateré-Mawé, dos 12 mil Sateré, cerca de 200 convivem nas aldeias ou nas cidades com algum distúrbio psíquico leve, moderado ou grave.
“O que tem sido feito pelos índios Sateré é a forçação de diálogos para práticas biomédicas e xamânicas, mas isso nem sempre foi possível em função de visões unilaterais de psiquiatras ou psicólogos para o tratamento de problemas mentais,” disse o professor.
Albuquerque avalia que os Hixkaryana são igualmente afetados em relação aos Sateré, apesar de sua população ser de aproximadamente 1 mil pessoas. Por possuírem menos inserção e contato com a sociedade urbana do Baixo Amazonas, lidam de forma artesanal com o problema. “Sem ajuda institucional e diálogo aberto para verificar e lidar com os distúrbios, é mais difícil manejar tratamentos tradicionais ou sintéticos, passando a ser perigoso,” afirma Albuquerque.
O trabalho foi orientado a partir de vivência social e integração humana nas sedes municipais da região, nos polos urbanos dos municípios de Parintins, Barreirinha e Nhamundá, todos pertencentes ao Amazonas e fronteiriços ao Pará, o que possibilitou reflexões acerca da situação dos aldeados das terras Andirá-Marau (Sateré-Mawé) e Nhamundá-Mapuera (Hixkaryana).
Os pesquisadores analisaram o que ocorre com as pessoas que enfrentam experiências de sofrimento mental dentro do âmbito da estruturação das pequenas e médias cidades da Amazônia Brasileira, com especificidades para regiões de fronteiras interestaduais.
DADOS
O suicídio de índios no Brasil chega a ser seis vezes maior do que a taxa nacional e preocupa especialistas. Dados do Mapa da Violência, do Ministério da Saúde, mostram que, enquanto o índice geral no Brasil é de 5,3 suicídios por 100 mil habitantes, a incidência sobe para acima de 30 em alguns municípios com população indígena.
Foram relacionados transtornos mentais orgânicos, sintomáticos, transtornos mentais e comportamentais causados por substâncias psicoativas, esquizofrenia, transtornos esquizotípicos, delirantes, de humor, transtornos neuróticos, somatoformes, relacionados com estresse, síndromes associadas a disfunções fisiológicas e fatores físicos, transtornos de personalidade, afetivos e alimentares, bem como variantes que afetam os povos étnicos engendrados no trânsito migratório. “O que gera sofrimento mental são estilos de vida urbana desfavoráveis a corpos e mentes de tradicionais,” conta Renan Albuquerque.
Implicações socioculturais, materiais e imateriais foram consideradas nos termos do estudo. São variáveis ambientais que implicam no adoecimento mental, sobretudo afetando a índios que estão em constante trânsito migratório.
A pesquisa “Migração aldeia-cidade entre índios Sateré-Mawé e Hixkaryana, na Amazônia Brasileira” pode ser acessada no link.
Fonte: CIÊNCIAemPAUTA/Henderson Martins