Grupo reinicia bactéria com DNA de outra


Isso é que é troca de identidades: cientistas fizeram com que uma espécie de bactéria se transformasse em outra substituindo todos os genes de uma delas pelo DNA da companheira. É mais um passo em busca da criação de organismos artificiais, micróbios feitos sob medida que poderiam produzir combustível limpo ou realizar uma série de outros feitos.

 "É o equivalente de pegar um computador Macintosh e transformá-lo num PC inserindo nele um programa novo", declarou o americano J. Craig Venter, pioneiro do deciframento do genoma humano e co-autor do estudo. A pesquisa está na edição desta semana da prestigiosa revista "Science" (www.sciencemag.org).  

 
Faz décadas que os cientistas conseguem transferir genes individuais, e até grandes pedaços de DNA, de uma espécie para a outra. Mas a equipe de Venter transplantou um genoma inteiro, o código completo para montar um organismo e mantê-lo em funcionamento, de uma vez só.

As vítimas do processo foram duas bactérias do gênero Mycoplasma, que não contam com a parede celular "dura" de outros microrganismos como elas e, por isso, são aparentemente mais permeáveis a esse tipo de transferência. Uma infecta cabras e a outra, vacas. Os pesquisadores não sabem muito bem como a idéia radical deu certo, mas, de alguma forma, os genes novos tomaram o lugar dos antigos e passaram a funcionar. Em algumas bactérias, pelo menos: só uma em cada 150 mil células passaram bem após a cirurgia.

Alguns pesquisadores, no entanto, têm dúvidas se o feito vai ter algum papel na revolução da chamada biologia sintética. "Há pessoas conseguindo avanços importantes com outras abordagens", disse David Relman, microbiólogo da Universidade Stanford (Califórnia). "Esse é diferente e um pouco mais usado, talvez dramático."

Troca-troca

Para efetuar a troca, a equipe de Venter primeiro marcou os genes da bactéria "doadora" com um corante azul e adicionou a eles um gene de resistência a antibióticos. (Assim, as bactérias que os absorvessem sobreviveriam quando fossem atacadas com o remédio, enquanto as outras morreriam.)

Depois, eles arrancaram a proteção de proteínas do DNA da bactéria doadora e o colocaram em placas junto com a bactéria receptora. Depois de algum tempo, pelo menos algumas bactérias receptoras parecem ter "sugado" – não se sabe como – o novo genoma, sem que restasse sinal do material genético antigo. Os pesquisadores acham que, na verdade, eles é que selecionaram a sobrevivência das bactérias que toparam o troca-troca ao usar os antibióticos.

Site G1 – Ciência & Saúde

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