Fundação de Medicina Tropical forma duas doutoras
A comunidade científica da área médica no Amazonas tem motivos de sobra para comemorar: as duas primeiras teses de doutorado do Programa de Pós-Graduação da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT-AM), desenvolvido em parceria com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), foram defendidas nas manhãs de quinta (23/7) e sexta-feira (24/7) pelas médicas e pesquisadoras Anette Talhari e Carolina Talhari.
Tratam-se das duas primeiras doutoras formadas por uma instituição médica do Amazonas, conferindo à Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, que já era referência no tratamento de doenças tropicais, lugar de destaque na formação e capacitação profissional de pesquisadores. As defesas foram prestigiadas por dirigentes institucionais do setor de ciência e tecnologia do Amazonas e por profissionais da saúde de todo o Estado, que lotaram o auditório da FMT, em Manaus, no final da semana.
A primeira tese, defendida na quinta-feira (23/7), foi da pesquisadora Anette Talhari, sobre leishmaniose. Médicos e técnicos presentes à defesa da médica ficaram surpresos com a eficácia de 70% do novo medicamento para o tratamento da leishmaniose apresentado na ocasião. Atualmente a doença é tratada apenas com injeções. Entretanto, pesquisas realizadas nos últimos meses pela médica mostram que a terapia também pode ser administrada via oral com medicamento criado, inicialmente, para o combate ao câncer.
“O teste foi feito com 60 pessoas, e os resultados foram excelentes para quem pega leishmaniose do tipo guyanensis. Agora precisamos ampliar o tratamento com um grupo maior, para que então o remédio possa ser usado como uma alternativa às injeções”, disse Anette ao final da apresentação.
Em relação ao remédio utilizado, Talhari disse que foi criado no final da década de 80 por pesquisadores da Alemanha. Para o tratamento do câncer, o medicamento não apresentou resultados positivos, mas com testes posteriores, os médicos descobriram que poderiam ser utilizados na terapia de pessoas infectadas com doenças tropicais, especialmente a leishmaniose.
Banca examinadora da tese de Anette Talhari
De acordo com o diretor-presidente da FMT/AM, Sinésio Talhari, um estudo semelhante feito com o mesmo medicamento, mas por outro grupo de pesquisadores, da Bahia, comprovou a eficácia da terapia para a leishmaniose do tipo brasiliensis.
“Isso significa dizer que este medicamento produzido apenas fora do país tem eficácia para a leishmaniose guyanensis, que é comum em toda a Amazônia, e para a brasiliensis, que é a mais notificada no Brasil”, afirma Sinésio.
Co-infecção hanseníase e aids preocupa médicos
A segunda tese foi defendida na sexta-feira (24/7) pela médica e pesquisadora Carolina Talhari e tratou sobre hanseníase em DST/Aids. Conforme a tese apresentada, o número de pessoas infectadas com o vírus HIV e que tem hanseníase ao mesmo tempo pode ser bem maior do que se tem conhecimento hoje.
Hoje, segundo dados da FMT/AM, existem 4.540 casos notificados, desde 1986, de pessoas infectadas com o vírus HIV e 977 no registro ativo de quem trata hanseníase, em todo o Amazonas. O Ministério da Saúde estima que no Brasil existam 1.200 pacientes co-infectados pelos patógenos, concentrados nas regiões Norte e Centro-Oeste, que apresentam as maiores prevalências do país para hanseníase.
A co-infecção HIV/hanseníase ainda é pouco conhecida. As características patogênicas e o aumento da incidência dessa co-morbidade justificam estudos clínicos epidemiológicos. Foi exatamente deste ponto de partida que a pesquisadora resolveu estudar o assunto. No estudo conduzido pela médica, ao longo de 45 meses, foram monitorados 24 pacientes que apresentaram as duas doenças ao mesmo tempo.
“Começamos a fazer o estudo em novembro de 1996 e monitoramos vários casos até junho deste ano. Algumas pessoas sequer sabiam que tinham hanseníase. Vale lembrar que a pessoa com Aids fica imuno-deficiente. É neste momento que aparecem as doenças oportunistas, e pudemos concluir que a hanseníase é uma delas”, explicou Carolina Talhari. Conforme a pesquisadora, seu estudo vai favorecer que os médicos possam ter uma melhor orientação para tratar a co-infecção.
As doenças
A hanseníase é uma doença infecciosa causada pelo bacilo mycobacterium leprae, que afeta os nervos e a pele, provocando danos severos. O nome hanseníase é devido ao descobridor do microrganismo causador da doença Gerhard Hansen.
Ela é endêmica em certos países tropicais, em particular na Ásia. O Brasil inclui-se entre os países de alta endemicidade da doença no mundo. Isto significa que apresenta um coeficiente de prevalência médio superior a um caso por mil habitantes.
A Aids se manifesta após a infecção do organismo humano pelo vírus da imunodeficiência humana, o HIV (sigla do inglês – “Human Immunodeficiency Vírus”). A Aids é uma doença complexa, uma síndrome que não se caracteriza por um só sintoma. Na realidade, o vírus HIV destrói os linfócitos – células responsáveis pela defesa do organismo -, tornando a pessoa vulnerável a outras infecções e doenças oportunistas, chamadas assim por surgirem nos momentos em que o sistema imunológico do indivíduo está enfraquecido.
Agência Fapeam
(com informações da FMT-AM)