Especial Magníficas: Maria Hercília, reitora do UniNorte
Maria Hercília Tribuzy, 64 anos, herdou de sua mãe, a memorável professora Hilda Tribuzy, a força e a exemplar dedicação à carreira acadêmica. Há 11 anos à frente de uma das maiores instituições de ensino superior da rede privada da região Norte, a reitora do Centro Universitário do Norte (UniNorte) comanda em torno de 600 professores em uma mega estrutura instalada no Centro de Manaus, que atende atualmente cerca de 25 mil alunos de graduação e de pós-graduação. O equilíbrio é a marca dessa grande mulher, mãe de três filhos que durante sua vida soube muito bem conciliar o dia-a-dia das produções científicas e as tarefas de esposa e mãe. Em seu percurso acadêmico, Maria Hercília, que é mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), tem muitas histórias para contar. Antes de ser reitora do UniNorte, foi professora e exerceu vários cargos de liderança na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), durante 25 anos. Nessa entrevista, Maria Hercília fala dos desafios de ser mãe, esposa e pesquisadora, destacando ainda a expansão dos centros universitários e faculdades particulares no Amazonas. Acompanhe, na íntegra, a segunda entrevista do Especial Magníficas, com a magnífica reitora do UniNorte, concedida com exclusividade para a Agência Fapeam.
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Agência Fapeam – Como surgiu seu interesse pela vida acadêmica e quais foram os fatos marcantes de sua vida acadêmica?
Maria Hercília Tribuzy – Posso dizer que o interesse pela vida acadêmica surgiu desde que eu era bem jovem, visto que tive a felicidade de nascer em uma família maravilhosa, e a minha mãe, a professora Hilda Tribuzy, que era uma educadora, uma figura ímpar, uma figura iluminada, dedicou a vida exatamente para os estudos, para o magistério, para a família, sob uma inusitada confiança em Deus. Então, foi isso que mamãe nos passou. Por isso, desde jovem, esse interesse pelos estudos. Era a tônica da nossa família.
Se eu fosse aqui tentar relacionar quais os pontos marcantes na minha vida acadêmica, eu diria que, na Ufam, onde eu trabalhei 25 anos, até me aposentar, tive momentos muito, mas muito gratificantes. Exerci várias funções, tanto por eleição quanto por indicação, mas sempre por reconhecimento ao meu trabalho. Fui Chefe de Departamento, Coordenadora de Curso, Diretora de Unidade, Diretora do Departamento de Registros Acadêmicos. Fui até Pró-Reitora de Ensino e de Graduação em exercício. E cada vez que eu assumia um cargo, era, para mim, muito marcante. Outro ponto é que, quando eu era professora do curso de Filosofia, fui, durante vários anos seguidos, até me aposentar, sempre homenageada pelos formandos, como paraninfa, patrona ou como nome da turma ou mesmo como a professora escolhida para dar aula da saudade. Para mim, isso era o reconhecimento do meu trabalho.
No UniNorte, onde me sinto muito realizada, um dos pontos marcantes foi o credenciamento como centro universitário, inclusive nós merecemos, pela avaliação do Ministério da Educação, o conceito máximo em todas as dimensões, e o professor Waldery Areosa Ferreira, que é o presidente da mantenedora, pessoa que estimo muito, me convidou para continuar à frente da instituição, na condição de reitora, com a seguinte expressão: “em time que está ganhando não se mexe”. Isso, para mim, foi um grande reconhecimento do meu trabalho. Outro fato marcante, no UniNorte, foi quando eu recebi a grande homenagem, do professor Waldery e de sua família, que escolheram meu nome para colocar no teatro da Avenida Joaquim Nabuco (Teatro Maria Hercília Tribuzy).
Agência Fapeam – A senhora enfrentou algum tipo de discriminação por ser mulher, tanto na sua vida acadêmica na Ufam quanto no UniNorte?
Maria Hercília Tribuzy – Não, nunca. Na realidade, eu sempre fui tratada com muito respeito, distinção e consideração. Em nenhum instante enfrentei problema dessa natureza.
Agência Fapeam – Como foi conciliar a vida em família com a carreira acadêmica?
Maria Hercília Tribuzy – Na realidade, parece ser difícil conciliar a vida familiar com a acadêmica, mas, no meu caso, não foi. Talvez porque segui o modelo da minha mãe. Então, acho que o segredo para compatibilizar as duas funções é envolver a família na sua atividade e fazer com que os filhos e o marido, desde cedo, percebam a importância do que você está fazendo e valorizem. Isso, para mim, deu certo. Assim, minha família esteve muito envolvida, e meus filhos cresceram dentro da universidade. Quando precisei me ausentar do Estado para fazer mestrado, para fazer cursos de pós-graduação stricto sensu e Escola Superior de Guerra, minha família foi comigo, meu marido e filhos me acompanharam, e essa participação deles na minha vida acadêmica, nos meus estudos e no envolvimento com a instituição, foi muito salutar. Com isso, creio que passei o interesse pela carreira acadêmica para eles, pois tenho duas filhas que já estão nessa área, e meu filho, que é bacharel em Direito, é também muito estudioso. Em vez de minha família ter sido um obstáculo para a realização da minha carreira acadêmica, pelo contrário, minha família, marido, mãe, filhos, cunhados, irmãos, sempre foram muito participativos para eu conciliar as duas coisas.
Agência Fapeam – Um momento especial para uma mulher que já desenvolve uma carreira na academia é a maternidade. Como foi ter três filhos e conciliar desenvolvimento deles com sua vida acadêmica?
Maria Hercília Tribuzy – A minha história é meio atípica, porque coincidentemente meus filhos nasceram enquanto eu cursava o mestrado na PUC-RJ. Então, minha filha mais velha nasceu enquanto eu fazia os créditos; minha segunda filha nasceu quando eu fazia a dissertação de mestrado, e defendi esse trabalho quando eu estava no último mês de gravidez do meu terceiro filho. Então, na realidade, consegui conciliar muito bem a maternidade e a atividade acadêmica, e sempre tive muito sucesso. A maternidade não me atrapalhou.
Agência Fapeam – As mulheres pesquisadoras hoje enfrentam esse problema, pelo fato de terem de responder com uma grande produção científica. Assim, algumas não conseguem conciliar os papéis e deixam para ser mãe muito depois, e outras nem conseguem engravidar. Como a senhora vê essa dificuldade. Será que essas mulheres deveriam receber um apoio maior?
Maria Hercília Tribuzy – Os paradigmas da sociedade mudaram. Hoje em dia as pessoas só realizam as coisas se tiverem incentivos. Na minha época, já estou com mais de 60 anos, não existiam incentivos por parte do governo. O incentivo que tínhamos era a vontade, era a determinação de querer estudar, de querer realmente produzir. Nem sequer passava pela nossa cabeça essa necessidade de ter esses incentivos para poder se dedicar à vida acadêmica. Hoje em dia é diferente, a gente percebe que há essa cobrança da sociedade, toda essa esperança nesses incentivos. Eu digo que isso não é empecilho para que se realize. Acho que o ser humano é capaz, ele é criativo, capaz de vencer qualquer obstáculo, desde que ele coloque aquilo como prioridade na sua vida. E vou dar como exemplo, a minha filha Ângela, que atualmente faz doutorado na Universidade Federal da Paraíba, com bolsa da Fapeam: ela está sozinha com dois filhos, um de 15 anos e um de 4 anos. Ela é mãe, pesquisadora e consegue conciliar essas duas funções com bastante tranquilidade.
Agência Fapeam – Como eram as atividades dos seus filhos? De certa forma, a senhora influenciou nas escolhas deles. Como eram os momentos deles, na infância e adolescência?
Maria Hercília Tribuzy – Meus filhos sempre estiveram muito envolvidos nas atividades acadêmicas, e os amigos dos meus filhos eram filhos das minhas colegas de trabalho. Eles participavam também dos cursos que eram oferecidos e viviam comigo o ambiente acadêmico na universidade. Quando eu estava, por exemplo, na Pró-Reitoria Acadêmica, como Diretora do Departamento de Registro Acadêmico, várias vezes minhas filhas iam para lá comigo e me ajudavam. Posso dizer hoje que elas dominam a legislação de educação superior tanto quanto eu, porque elas viviam essa vida acadêmica. A nossa conversa em casa sempre girava em torno de estudos, dos cursos que estavam sendo oferecidos, e isso foi despertando neles a curiosidade e vontade de participar, e assim eles foram estudando e, graças a Deus, hoje minhas filhas são mestres, e uma já esta até fazendo o doutorado. Todas dedicadas ao magistério. Criar os filhos nesse ambiente de estudo é muito bom.
Agência Fapeam – Como a senhora vê a expansão dos centros universitários e faculdade particulares em Manaus?
Maria Hercília Tribuzy – Vejo como o grande avanço que a sociedade viveu nesses últimos anos. Para mim, era muito constrangedor quando eu ainda estava na então Universidade do Amazonas, e naquela época havia um número muito limitado de instituições de ensino superior, principalmente na nossa cidade, e eu via aquela quantidade imensa de jovens, aquela demanda reprimida que não conseguia entrar porque a universidade não tinha condições de abrigar esses alunos todos. Então, muitas pessoas com competência ficavam do lado de fora, dependendo do curso. Para mim, essa expansão que foi dada pelo Ministério da Educação para a criação e implantação das instituições privadas veio solucionar esse problema para atender a essa demanda reprimida. Fico muito feliz de ver que hoje em dia, se nós formos fazer uma estatística, aquela demanda que ficou reprimida é praticamente atendida, e que as pessoas vieram, independentemente da idade, e realizaram o sonho de estudar numa instituição de ensino superior. Hoje temos uma oferta de número de vagas de nível superior no Estado do Amazonas que praticamente atende a demanda. Só a nossa instituição atende 25 mil alunos de graduação e, para nós, é uma satisfação imensa saber que esses jovens todos estão tendo essa oportunidade. Além disso, falando do UniNorte, oferecemos uma série de alternativas para que o aluno possa estudar na instituição privada, seja por meio da adesão dos programas do governo, como Fies (Programa de Financiamento Estudantil), Prouni (Programa Universidade para Todos), seja por meio de financiamentos próprios. Temos ainda uma coordenação de estágio, cuja função é conseguir estágio remunerado para os alunos e assim ajudá-los a custear os estudos.
Agência Fapeam – O que mudou no UniNorte com a integração à rede Laureate International Universities?
Maria Hercília Tribuzy – O UniNorte passou a integrar a maior rede mundial de ensino superior privado e poderá compartilhar de programas acadêmicos com outras instituições da rede localizadas na Europa, Ásia, na América do Norte, América Central e América do Sul. Isso aumenta a nossa possibilidade de oferta de uma educação com qualidade, com reconhecimento internacional. Estamos inseridos num contexto globalizado. Vejo que essa oportunidade de nossos professores, alunos e funcionários participarem de intercâmbios da rede Laureate é muito positiva, porque essa vivência internacional agrega valor ao currículo de todos, e o currículo enriquecido passa a ser um diferencial decisivo para o mercado de trabalho.
Agência Fapeam – O que significa, na sua opinião, para a comunidade acadêmica a eleição da primeira reitora da Ufam, Márcia Perales, em 100 anos de história?
Maria Hercília Tribuzy – Acredito que a vitória da Márcia representa o reconhecimento da maioria da comunidade acadêmica da Ufam pelo trabalho que vinha sendo desenvolvido pelo professor Hidemberg Frota, o reitor que está saindo, gestão em que ela integrava o corpo administrativo. Creio, portanto, que não foi por ser mulher, mas pela sua história de vida acadêmica, pelo seu trabalho realizado à frente da Pró-Reitoria de Extensão, pela sua competência, pelo seu plano de trabalho, ela foi eleita. Gostaria de dizer também que conheço a Márcia desde pequenina e posso garantir que ela é um exemplo vivo de uma mulher que soube conciliar a maternidade com a vida acadêmica, porque ela é uma boa esposa e excelente mãe e profissional, com muita competência.
Agência Fapeam – Sabemos que a senhora valoriza muito sua vida espiritual. A senhora acredita que isso influenciou nas suas conquistas?
Maria Hercília Tribuzy – Claro que sim. Herdei da minha mãe essa confiança e fé em Deus que sempre me acompanharam. A prioridade em minha vida é esse trabalho missionário que faço pelas oficinas de oração e vida, porque quero anunciar esse Deus vivo, quero levá-lo ao coração de cada irmão, porque eu creio piamente que por meio da oração e da meditação da palavra, através de um modo de viver que realmente testemunhe essa presença de Deus em nós, é a única forma de sermos felizes. Então a quem busca a felicidade, este é o caminho. O caminho é Jesus.
Cristiane Barbosa – Agência Fapeam