Entrevista: Talhari avalia pesquisa no Amazonas
Sinésio Talhari é um dos pesquisadores e gestores do setor de saúde mais respeitados do Estado do Amazonas e da Região Norte. Graduado em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (1970), mestre em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (1973) e doutor em Dermatologia pela Escola Paulista de Medicina (1988), ele dirige, com entusiasmo, a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FTM-AM). Em entrevista à Agência Fapeam, Talhari avalia o cenário da pesquisa no Amazonas e destaca o papel fundamental desempenhado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas para o avanço da ciência, bem como da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, da Universidade do Estado do Amazonas e da Superintendência da Zona Franca de Manaus. Um feito importante dos pesquisadores de sua Fundação: na área de HIV, o Amazonas é hoje referência no Norte do país. Isto sem falar nos dois doutores que a instituição acabou de formar e nos 45 mestres que já acumula. Confira.
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Agência Fapeam – Como está hoje a parceria entre Fundação de Medicina Tropical e Fapeam?
Sinésio Talhari – Em entrevista recente, quando me fizeram uma pergunta parecida, eu respondi que nós temos dois momentos na pesquisa no Estado, sendo estes muito distintos: antes e depois da Fapeam. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas mudou totalmente a questão das investigações científicas no âmbito do território amazonense. Primeiro porque ela é ágil e segundo porque os editais que são abertos estão voltados para problemas nossos. É claro que a Fapeam contempla uma gama ampla de áreas de ciência e tecnologia, mas ela tem um foco particular nos problemas do Amazonas. Isso é um diferencial enorme em relação a outros editais.
Agência Fapeam – O senhor fala dos editais do CNPq?
Sinésio Talhari – Há dez dias, por exemplo, saiu um edital do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). São R$ 100 milhões para o desenvolvimento de C&T. Nesse caso, nós entramos logo de cara em desvantagem na disputa, porque temos poucos doutores, e ainda, entre os poucos doutores que temos, há um número relativamente pequeno daqueles que tem produção científica e estão credenciados junto ao CNPq para pesquisa. A Fapeam, nesse contexto, está possibilitando que mais doutores promovam pesquisa, que mais doutores tenham publicação em revistas de impacto, e essas revistas de impacto dão retorno em termos de reconhecimento e credibilidade às instituições.
Agência Fapeam – Como estão os cursos de mestrado e doutorado da FMT/AM?
Sinésio Talhari – Temos uma parceria com a UEA (Universidade do Estado do Amazonas). Ela é o nosso vínculo, digamos assim, com a universidade. Há também a Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), que tem contribuído de uma forma particularmente importante em relação às pesquisas na FMT, além da Fapeam, a qual já citei.
Agência Fapeam – Em que área a Suframa auxilia?
Sinésio Talhari – A Suframa tem o P&D (Plano de Pesquisa e Desenvolvimento), que sugere a aplicação de projetos que sejam para o desenvolvimento não só de informática. O P&D contempla uma série de aplicações que são para o desenvolvimento de tecnologia também. Quando eu falo em desenvolvimento de tecnologia, falo em comprar uma máquina que te permita sequenciar uma determinada bactéria, diagnosticar e tratar um paciente. Ou seja, P&D não é só pólo de informática. Eu diria que 50% ou 60% do que fazemos aqui na medicina tropical, em relação à pós-graduação, aos programas de mestrado e doutorado, vem da Suframa, e aí a gente tem de dar nome às pessoas. A superintendente Flávia Grosso tem nos ajudado muito, tanto quanto o professor Odenildo Sena (diretor-presidente da Fapeam), a professora Marilene Corrêa (reitora da UEA) e o professor José Aldemir (secretário de Ciência e Tecnologia do Estado).
Agência Fapeam – Quantos mestres e doutores já foram formados pela FMT/AM?
Sinésio Talhari – Até hoje foram 45 mestres em infectologia e dois doutores na área de doenças infecciosas e tropicais. Isto porque o doutorado começou em 2006, mas o mestrado começou há sete anos.
Agência Fapeam – Qual o posicionamento da Fundação de Medicina Tropical em relação a outros centros especializados do Norte?
Sinésio Talhari – Bem, uma coisa que eu posso dizer é em relação ao Pará. Nós trouxemos para o Amazonas o laboratório de genotipagem de vírus HIV. Isso era feito naquele Estado vizinho, e o Amazonas é que está fazendo agora. Eu não quero entrar no mérito e dizer como é que essas coisas acontecem, mas, nessa área de HIV, nós estamos melhores nesse momento. Eu não posso falar o mesmo da malária, porque exigiria uma avaliação bem adequada. Mas, na área de HIV, com a qual lido muito de perto, pois sou dermatologista, posso dizer que estamos tranquilamente entre os melhores da região Norte.
Agência Fapeam – A Fapeam abriu edital para pesquisas na área da malária. Como a FMT/AM está inserida nesse contexto?
Sinésio Talhari – Isto é uma coisa digna dos maiores elogios. Trabalho há 35 anos na área de saúde aqui no Estado do Amazonas e nunca vi nada disso acontecendo em nenhuma das áreas médicas. A Fapeam tem tomado a dianteira em relação a outras FAPs e vem agregando muitos valores para o Estado. Quando se vê o volume de recursos que o professor Odenildo conseguiu através da Fundação, da nossa Fapeam, para malária, é um volume respeitável. São milhões de reais. Não faço aqui um elogio gratuito, mas devemos reconhecer o trabalho feito.
Renan Albuquerque – Agência Fapeam