Fungos produtores de corantes são foco de estudo

Estes fungos são capazes de produzir corantes naturais nas cores amarelo, laranja claro, laranja escuro e vermelho / Foto: Caroline Rocha
Fungos retirados do solo da Amazônia são bons produtores de corantes naturais. Esta afirmativa se faz possível por meio dos resultados de pesquisa realizada no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e publicada na revista inglesa Process Biochemistry, com o título Bioprospecting of Amazon soil fungi with the potential for pigment production.
“Quando comparado aos corantes sintéticos, os corantes naturais são menos tóxicos, menos nocivos ao ambiente e podem ser utilizados muitas vezes como antibióticos e antioxidantes”, destacou o biotecnologista, João Vicente Braga de Souza, responsável pelo Laboratório de Micologia do Inpa e coordenador da pesquisa.
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Além do tecnologista, a pesquisa foi desenvolvida pelos alunos de mestrado e doutorado do Inpa, Jessyca dos Reis Celestino, Loretta Ennes de Carvalho e Alita Moura Lima. A pesquisa também teve como autores os pesquisadores, Maurício Ogusku, responsável pela identificação por DNA do fungo, e Maria da Paz Lima, responsável pela identificação química dos corantes.
Depois de coletar pequenas amostras de solos das localidades do Instituto, o biotecnologista usou os métodos de estudos de bioprospecção (método utilizado para explorar recursos genéticos e bioquímicos em seres vivos) para encontrar fungos capazes de produzir as cores: amarelo, laranja claro, laranja escuro e vermelho.
Souza explica que foram isolados 50 microrganismos das amostras de terra para investigação. Desses, apenas cinco fungos produziram cores interessantes com potencial para serem usados como corantes, são eles: Penicillium sclerotiorum 2AV2; Penicillium sclerotiorum 2AV6; Aspergillus calidoustus; Penicillium citrinum e Penicillium purpurogenum.
VANTAGENS E DESVANTAGENS
Os ‘corantes fúngicos’, além de possuírem a função de colorir, podem também apresentar importantes atividades biológicas, como ações anticancerígenas, antivirais, imunossupressora, antioxidantes, e antimicrobianas. Alguns podem ainda ajudar na redução do colesterol.
Segundo Souza, tratando-se de sustentabilidade, os produtos à base de corantes naturais são facilmente reconhecidos pelo meio ambiente. Por conta disso causam menos impactos ambientais. “Um fator importante é que os corantes naturais, de modo geral, são menos tóxicos em comparação aos de origem sintética”, afirmou Souza.
Por outro lado, a degradação rápida pode ser uma desvantagem para a indústria. A mudança de cor e pouca durabilidade é uma barreira grande para as empresas que pretendem adotar corantes naturais.
“Podemos perceber a aplicação dos corantes naturais em refrigerantes de frutas, que nos anos 70 possuíam cor mais forte devido ao uso de corantes sintéticos. Atualmente sua cor está mais clara, porém é mais saudável para quem consome”, explicou Souza.
De acordo com Souza, os fungos estão presentes em quase todos os ambientes da terra, sendo que as regiões tropicais de clima quente e úmido são encontradas maiores diversidades de fungos. “Os corantes provenientes desses microrganismos são abundantes e renováveis, ao contrário dos derivados de petróleo”, afirmou o biotecnologista.
MERCADO
A procura por corantes naturais é cada vez maior por parte das indústrias alimentícias e farmacêuticas, que utilizam o produto por ter maior valor medicinal e possuir baixas propriedades tóxicas para o homem e para o meio ambiente.
Segundo João Vicente, durante muito tempo, corantes foram produzidos de forma sintética, ou seja, criados em laboratórios e derivados de petróleo ou de reações químicas, o que aumentava a toxicidade e prejudicava a saúde do homem.
Souza conta que os fungos da classe Monascus são mais utilizados pelas indústrias na fabricação de corantes e pigmentos, pela produção em larga escala, mas as micotoxinas (substâncias químicas tóxicas produzidas por fungos) reduzem o valor comercial e impedem a sua aplicação como corantes nos Estados Unidos ou em países da União Europeia e parte da Ásia.
“O Brasil já tem algumas restrições de uso de corante sintético na indústria farmacêutica e alimentícia”, afirmou. Já em países desenvolvidos, o uso de corantes naturais é amplamente disseminado.
Novas pesquisas estão sendo feitas com o fungo Penicillium sclerotiorum 2AV2 para aumentar a quantidade de corantes para escala industrial e explorar as suas potencialidades biológicas.
FONTE: Ascom Inpa/ Caroline Rocha