A melodia da ciência
É bastante interessante perceber como a expressão artística de determinada época pode ser resgatada por meio dos estudos das obras musicais de artistas anteriores a essa época e, assim, se ter noção da dimensão cultural passada e da qual nos encontramos atualmente. O mais interessante ainda é estimular a formação de mão de obra, de estudantes de Graduação aos de Pós-graduação, para atuar nesses campos e proporcionar a qualificação de profissionais de arte.
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No Amazonas, o doutor em Ciências Musicais Históricas pela Universidade de Coimbra e professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Márcio Leonel Farias Reis Páscoa, coordena um estudo de recuperação de uma ópera do autor amazonense Bento Aranha. A pesquisa conta com o apoio da FAPEAM, por meio do Programa de Apoio à Consolidação das Instituições de Ensino ou/e Pesquisa (Pró-Estado), da Secretaria de Estado de Cultura (SEC) e do Conselho Municipal de Cultura.
Por meio das técnicas de pastiche – imitação criativa de textos preexistentes – e de contrafacta – substituição de um trecho do texto por outro sem mudança significativa da obra original – o grupo de pesquisa coordenado por Páscoa está recuperando a ópera de Bento Aranha. “Nós temos os textos e muitas indicações musicais do autor. Embora não tenhamos a música, por meio dessas técnicas, nós damos à obra um novo veículo musical. Novo no sentido de que apesarde não ser o original, é absolutamente coerente com as peças musicais daquela mesma época”, afirmou.
A ideia é que a ópera seja representada da forma mais semelhante possível. A previsão é que a finalização dos estudos ocorra até o final de 2014 com a montagem integral da obra, composta por um ato e cinco cenas, totalizando aproximadamente uma hora e meia de espetáculo.
“A montagem se constitui num trabalho raro que retrata o Brasil da época. Se não estiver tudo pronto, ao menos parte vai ser encenada em concertos pelo País”, adiantou o pesquisador.
Páscoa afirma que o resgate da memória é importante para se ter a dimensão do que é nossa cultura, das riquezas de possibilidades a serem desfrutadas pela geração atual. Para o pesquisador, a ideia daquilo que foi feito no passado deva ficar esquecido, como algumas pessoas insinuam, dá uma impressão errônea do quesito tempo. “Posso dizer que algo realizado há 50, 100 anos não me serve, tranquilamente, a partir da observação de que não me identifico mais com o mesmo, todavia, jamais em função do tempo. Nós temos hoje uma consciência histórica maior sobre objetos históricos e o nosso presente pode ser ainda mais rico com o conhecimento sobre o passado’’, ressaltou.
Graduação e Pós-Graduação envolvidas
Um destaque do projeto é a participação de estudantes da Graduação e da Pós-graduação Stricto sensu, do curso de Música da UEA e de outras áreas. Conta ainda com 14 pessoas vinculadas a bolsas da FAPEAM e cinco docentes vinculados por meio das instituições parceiras. De acordo com Páscoa, as pesquisas em arte envolvem profissionais de diversas áreas por causa da necessidade de músicos, cantores, teatro e dança.
“Temos o pessoal de artes cênicas que não estão envolvidos diretamente com a recuperação musical do espetáculo, porém estarão inseridos em outra etapa da apresentação”, disse.
Ainda segundo Páscoa, a participação do graduando é importante e, se os estudantes estiverem envolvidos com a iniciação científica é melhor ainda, pois chegam mais preparados em relação aos que não participaram de pesquisa. “Quando se começa a ter contato com as questões pertinentes ao meio musical o mais cedo possível, ao chegarem ao mestrado e doutorado, os estudantes estarão ainda mais preparados”, comentou.
É o caso do professor do curso de Música Gabriel de Sousa Lima. Violinista graduado pela UEA em 2011, o docente participa do Laboratório de Musicologia e História Cultural, desde 2008, quando ainda era estudante. Ingressou, primeiramente, como voluntário de iniciação científica (IC) e, em seguida, como bolsista financiado pela FAPEAM.
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Carlos Fábio Guimarães – Agência FAPEAM