Valorização de línguas indígenas é uma realidade


A opinião é do lingüista Frantomé Pacheco, da professor da Ufam; para ele, a força desse movimento vem dos próprios índios, que reconhecem a complexidade e  importância de  sua língua

Ao longo da existência da humanidade, muitas línguas desapareceram em conseqüência das pressões econômicas, políticas e culturais. Influenciadas pelas mesmas questões, novas línguas também surgiram. Hoje, em um mundo dominado pelo comércio global, internet e TV a cabo, a situação não é diferente. Exemplo disso são as línguas indígenas amazônicas.

 

A região possui a maior diversidade de línguas indígenas no país. São aproximadamente 200 línguas em toda a Amazônia, sendo 180 apenas no território brasileiro. Muitas estão com sérios riscos de desaparecer, apesar da resistência dos falantes e das poucas – porrém fundamentais – pesquisas lingüísticas.

 

Um dos objetivos da lingüística é tentar entender como as línguas interagem no contato com outras culturas, além de fornecer material de divulgação nos seus vários aspectos: fonologia; morfologia; sintaxe; léxico; discurso. Ou seja, como as línguas são utilizadas no contexto sócio-cultural.

 

“É importante investigar, por exemplo, como as línguas indígenas brasileiras e da América do Sul se comportam no contato com missões evangélicas, mineradores etc.”, explica o professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Frantomé Bezerra Pacheco, doutor em Lingüística pela Universidade de Campinas (Unicamp).

 

Ao longo da história do Brasil, segundo ele, pela falta de estudos baseados na Antropologia e na Lingüística, focados em uma ideologia que tratava determinada língua com juízo de valor – se era boa ou ruim, não se tinha noção da diversidade lingüística e cultural dos povos indígenas do país. “Durante muitos anos, não havia trabalhos que determinassem quais línguas eram faladas no Brasil. Em muitos casos, essa riqueza era menosprezada pelos portugueses”, lamenta.

 

Hoje, há um movimento de valorização dessas línguas. Isso porque os próprios índios têm um pensamento de que sua língua é tão complexa quanto qualquer outra. “A língua é composta por sistemas de comunicação que servem para interação das pessoas que participam da mesma sociedade, agrupamento humano e comunidade lingüística. Por isso, quando trabalhamos em comunidades que têm interesse em vitalizar a língua nós ensinamos que é importante que a criança interaja com um professor indígena e não com o educador que ensine o português”, enfatiza.

 

O pesquisador diz que, antigamente, o que acontecia com a educação indígena era que o professor “branco” ou não indígena chegava às comunidades com preconceitos lingüísticos. “Ele pensava que a língua indígena não era boa, não servia. Além disso, o discurso dos professores era que os indígenas tinham que aprender o português porque é a língua da nação”, observa Pacheco.

 

Para ele, o quadro começou a mudar a partir de uma estratégia do Ministério da Educação (MEC): formar os índios nas aldeias para atuarem como professores e assim promoverem uma educação diferenciada, bilíngüe e bi-cultural. “Dessa forma, era possível trabalhar matérias como geografia, história, biologia promovendo uma educação diferenciada. Tudo foi pensado com o apoio de antropólogos, lingüistas e indígenas”, explica.

 

Luís Mansuêto – Agência Fapeam

 

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