Estudo mostra a biologia alimentar de morcegos vampiros


A paisagem amazônica vem sofrendo diversas modificações ao longo dos anos devido à ação humana como, por exemplo, aumento das pastagens, extração de madeira e construção de obras de infra-estrutura como estradas e hidrelétricas. Conseqüentemente, o habitat de muitas espécies de animais têm sido alterado. É o caso do morcego hematófago Desmodus rotundus (Mammalia: Chiroptera), que pode se tornar uma espécie comum em áreas antropizadas (alteradas pelo homem).

Mas como esta espécie se comporta e quais as espécies de animais que ela se alimenta? Essas informações fazem parte da primeira tese de doutorado do Curso de Genética, Conservação e Biologia Evolutiva (PPG-GCBev), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Ela também é a 84º tese a receber recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

Denominada "Caracterização Molecular da dieta do morcego hematófago Desmodus rotundus (Mammalia: Chiroptera) na Amazônia Brasileira", o trabalho foi apresentado pelo aluno de pós-graduação, Paulo Estefano Dineli Bobrowiec, sob a orientação do pesquisador da Coordenação de Pesquisas em Botânica (CPBO/INPA), Rogério Gribel e co-orientação da pesquisadora da Coordenação de Pesquisas em Ecologia (CPEC/INPA), Maristerra Lemes. A apresentação aconteceu na segunda-feira (19/11) na sala de seminários da Coordenação de Pesquisas em Biologia Aquática (CPBA), do INPA.

O trabalho teve como foco a dieta alimentar do morcego Desmodus rotundus, conhecido como morcego vampiro. A pesquisa se dividiu em duas fases e foi realizada nas comunidades ribeirinhas dos rios Madeira e Aripuanã e do lago do Ayapuá, no rio Purus.

A primeira etapa consistiu no desenvolvimento de uma técnica genética para identificar e diferenciar as espécies animais atacadas pelo morcego a partir da análise do DNA das presas contidas nas fezes do morcego. A etapa seguinte foi a aplicação prática da técnica desenvolvida pelo aluno em amostras fecais coletadas dos morcegos em condições naturais, a fim conhecer as proporções em que as presas são consumidas pelo morcego. Os dados coletados demonstraram que a presa mais consumida nesses locais foi galinha (61%), seguida do porco (32%) e do boi (5%).

Segundo Bobrowiec, os resultados de sua pesquisa podem servir para estudos futuros sobre a incidência de ataques de morcegos vampiros em comunidades rurais da Amazônia brasileira. “A técnica desenvolvida é muito útil no estudo da dieta dessa espécie de morcego e também é importante para embasar programas de controle da população de morcegos hematófagos. Os resultados indicaram que em locais onde são criados porcos pode se esperar uma maior densidade de morcegos vampiros. Nestes locais o controle e monitoramento das populações dos morcegos devem ser mais intensos", alerta.

De acordo com Bobrowiec, a pesquisa também pode auxiliar na elaboração programas de controle de zoonose que considerem os aspectos da biologia dos morcegos hematófagos. Ele explica que os relatos de moradores que já foram mordidos por morcegos vampiros em comunidades ribeirinhas não é algo tão incomum quanto se espera. Contudo, questiona Bobrowiec, o que pode ter influenciado o morcego a alimentar-se de sangue humano?

Uma hipótese levantada por especialistas, de acordo com Bobrowiec, é o aumento da população desse morcego causada pela disponibilidade de alimento nas comunidades rurais ribeirinhas como animais de criação (galinhas, porcos e bois) e doméstico (cachorro). “Na disputa por alimento entre os morcegos, os mais jovens acabam não conseguindo tais recursos. Esses morcegos então são forçados a buscar outra fonte de alimento, por exemplo, o sangue de humanos", explica.

“Se a raiva se proliferar no meio dos morcegos pode virar um problema de saúde pública para o Estado. Isso pode ser dar por grandes alterações no meio ambiente onde esses morcegos vivem. No início, sintomas do vírus da raiva são semelhantes ao da dengue e malária, ou seja, febre, dor no corpo. Depois da mordida do morcego, a doença pode demorar um ou três meses para se manifestar e as pessoas podem não associar a mordida do morcego com os sintomas da doença”, alerta.

Para a diretora técnica-científico da Fapeam, Elizabeth Brocki, a pesquisa realizada por Bobrowiec demonstrou ser de total relevância para a saúde pública do Estado e que não fica restrita somente a bancada do laboratório. Ela também destacou que é um momento ímpar na formação de recursos humanos para o Amazonas. "O Estado possui menos de mil doutores, cerca de 860, é preciso aumentar o número de doutores na região", destaca.

Incentivo para Programas de Pós – Graduação – A doutora Miriam Rafael enfatizou que o Programa Nacional de Pós-Graduação (PNPG) visa, com o apoio dos Programas de Cooperação Acadêmica (PROCAD) e ACELERA Amazônia/CAPES, triplicar até 2010 o número de cursos de Pós-Graduação, e até 2015 o número de doutores na Amazônia. Isso implica no aumento do número de bolsas, melhoria de infra-estrutura, de ensino e na intensificação em estabelecer parcerias com Programas de Pós-Graduação do país e exterior, para atender a demanda de áreas de conhecimento local e estratégias de pesquisa.

Segundo ela, o Programa de Genética do INPA já iniciou essa corrida junto à Universidade de Campinas (UNICAMP) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), dentre outras, para a formação de doutores, em especial, para trabalharem na e pela Amazônia. "Todo esse investimento culminará com a diminuição das desigualdades regionais observáveis na pós-graduação brasileira e nos aspectos social, econômico e ambiental dos povos amazônidas" concluiu.

 

Luís Mansuêto – Agência Fapeam

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